segunda-feira, 6 de julho de 2009

Anti-herói

Não me pergunte como, mas hoje acordei inspirada. Você já sabe, meu nome é Rebeca. O que você tem a ver com isso? - Você também já sabe. Nada.
Ontem consegui sair de casa sem que as pessoas me chamassem de gorda. Eu não as ouvi. Fui a um lugar chamado "Bar Q? Bar" que fica próximo a uma loja de calcinhas masculinas. Você não conhece? - Eu também não conhecia. Mas use, é confortável. Lá encontrei o cara com quem marquei um encontro. Eu o conheci ontem na loja onde passei essa semana fazendo propaganda de sabonete íntimo feminino. Ah, esqueci de dizer. Eu trabalho com isso. O nome dele é Waldo, mas ele gosta que o chame de Ualdo. Diz que seu nome é inglês e não alemão. Bem como quis, o chamei de Uallll-do. Não repare, fazem noventa dias que não transo.
Waldo era baixo como eu, magro, usava óculos e era monocelha. Você sabe, aquela sobrancelha única de um lado a outro.
Logo que cheguei me apresentei. Ele ficou um tanto nervoso, eu percebi prontamente. Ele puxou uma das cadeiras para que eu me sentasse, e deu a volta até a outra. Chamou o garçon de "garçon", pediu um chopp e um suco de melão com hortelã. Você não bebe? - Não. Ok, ok há muito tempo não conhecia alguém que não bebesse. Esse cara não é para mim...
Falamos sobre sua vida, sobre a minha, sobre política e econômia. Mesmo sem que eu soubesse o que falei. Ele me pareceu convicto com suas idéias. Era contra a globalização e a certo ponto disse que lia quatro livros por mês. Se ele trabalhava? - Sim, trabalhava. Numa biblioteca pessoal. Onde alugava livros aos desprovidos de cultura governamental. O bairro era simples e não possuía nem encanamento. Ele era presente em sua relidade. Não gostava desse nosso mundo descartável.

Após muito tempo de papo furado, resolvemos nos despedir. Ele me oferceu uma carona e assim seguimos. As conversas agora eram sobre ambientalismo e do porque dele não comer carne vermelha. Eu adoro churrasco.
Próximo a minha casa reparei num casal aos amassos. Parecia bom e eu queria igual. Pouco depois que o carro parou, eles saíram. Eu mesmo bêbada percebi que algo caiu. Abri a porta do carro e corri até o local. Uma nota de cinquênta reais. Maravilha, vamos terminar a noite em grande estilo. Retornei ao carro e ao entrar tropecei na porta. Ele, com todo seu cavalherismo, me segurou e pediu para que mostrasse o que havia caído do amoroso casal. Mostrei a nota de cinquênta reais, pensei e disse: MOTEL de graça, meu amor. Waldo: nem pense nisso. Esse dinheiro não é seu. Devolva-o agora, vagabunda!

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