terça-feira, 25 de agosto de 2009

Quem sabe?

Quanto tempo não vinha contando meus afazeres? - Nem lembro. Fato e' que minha vida não parou nem por um minuto sequer. Lembra quando disse sobre conhecer pessoas novas? Eu disse? - Ah, ok. Vou contar agora. Mas não fique enciumado, minhas intenções são sempre as mesmas; felicidade momentanea. Lembra? - Ok, você não precisa gostar de mim.

Ontem conheci pessoalmente um sujeito com quem conversava ha' algum tempo. Altura mediana, cabelos encaracolados, bem vestido e um pouco insólito.

Certa vez atendi uma ligação de um número desconhecio, e acabei me alongando no papo. Rude, porém amavelmente atencioso, se tornou uma terapia aos finais de semana. Mais precisamente às sextas-feiras. Quando saía mais cedo do expediente e resolvia me ligar. O que você tem a ver com isso? - Não interessa. So' estou resumindo a história para que não fique com ciúmes.
Desses encontros telefônicos, após o quarto, ou quinto... Rude me convidou para sair. Mas óbvio, teria de ser numa sexta-feira. Bem como você não sabe, eu odeio sair às sextas-feiras, coisa intrínsica de meu ser. Foda-se se você gosta, eu odeio. Nem mais uma palavra por favor, não se esqueça que ainda posso ler sua mente.

Eu neguei por mais quatro semanas, mas sua insistência me levou para o bar. Um encontro às escuras, muito própria e habitual dos meus desejos. Quais eram essas intenções? Pra mim o de sempre, felicidade momentânea. Pra ele? Não sei, se você o conhecia, deveria ter me falado. Ja' disse que não e' para gostar de mim, mas por favor me fale sobre o que sabe e me evite por algum tempo.

Nessa noite escolhi a roupa mais marcante. Mais estranha. Mais bizarra. Claro, não queria que ele se apaixonasse por mim logo de cara. Muito embora eu saiba sobre meu poder de sedução. Não aquela de mostrar as coixas, mas aquela de morder os lábios. Clichê? Foda-se, ate' agora me rendeu boas aventuras. E você?

Escolhi a mesa mais próxima da porta. Aqueles dois maços de carlton estavam la' para isso. Para sustentar minha ansiosidade. Óbvio, não tomei lexapro naquele dia para não diminuir minha libido. Ok, ok. Você esta' achando que sou uma vaca... Mas pelo menos eu ainda desfruto daquilo que você odeia. Preliminares.

Quando Rude chegou, se apresentou. Não era la' aquelas coisas, mas sua conversa me fez sair na sexta-feira e isso de fato ja' era algo a se festejar. Sujeito tímido e aparentemente nervoso, não deu de ombros que logo se espantou ao ver minhas vestimentas. Não pense merda, amor, não era aquela roupa que você ama de paixão. Não. Era aquela que você odeia. Mas Rude, aparentemente, gostou.

Sobre vinhos, queijos e inteiramente entregue a meia taça, meia taça, meia taça de espumante, comecei a perceber que ele apenas queria uma sexta-feira. Daquelas que eu amaria ha' algum tempo atrás. Não fique com ciúmes, por favor. O desenrolar disso tudo pode ser sua vitória.

Ao passo de idas e vindas ao w.c., Rude deixou escapar que precisava ir embora, o que me fez desconfiar de alguma coisa a mais que ele não queria me contar. A essa altura, eu nem ligaria mais para qualquer coisa que ele me contasse, so' queria deitar ao seu lado e poder ouvir por horas e horas e horas e horas, seus lábios dançarem ao som daquela etérea eloquência. Sim, sim, você vai dizer que dificilmente me apaixono. Mas o que podia fazer? Estava entregue ao bom argumento! Ja' disse para não gostar de mim. Ja' te avisei, porra!

O celular tocou. Ele tentou atender, mas entre nervosismo, tremdeira, suador e desespero, o aparelho pulou! Ele rebateu com a mão esquerda e o dispositivo caiu aberto sobre a mesa.

E _sua_ vitória, que fora turva e distante, ganhou forma, cor e muito brilho...

Raíssa calling...
Raíssa calling...
Raíssa calling...
Raíssa calling...

- rebeca stocatti


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segunda-feira, 6 de julho de 2009

Descartável

Vocês, vocês. Quem diriam. Sempre aí, querendo saber mais da minha medíocre vida. Fodam-se. Estou feliz. Dessa vez não e' momentâneo. Não ao que me parece. Quanto tempo vai durar? Foda-se de novo. Não é da sua conta. Estou apaixonada. Ele voltou. Sim, meu ex-namorado. Aquele mesmo que me trocou por outra. Mas sabe, sinto a necessidade em te-lo. Não importa se fui trocada ou se ele não vale nada. O que importa pra mim, é estar com ele. Não combinamos? Quem foi o babaca que pensou isso? Esqueça-me. O dia tem 24h, se ele me fizer feliz 2h por dia, já me e' suficiente para não acordar de mau humor.

Hei, Hei, não comente sobre minhas decisões. Eu gosto de sofrer. Nasci para isso. Já e' uma condição da minha vida. Eu sei que daqui um tempo conseguirei me desfazer dele sem ressentimentos, mas me deixa pelo menos curtir esse pequeno tempo. Claro, um homem não ama uma mulher duas vezes, não precisa me lembrar, mas eu gosto desse negocio de mentira. Já te disse, isso agora é uma condição da minha vida. O que minhas amigas me dizem não servem para o momento. Prefiro me ferrar bem para saber o que e' certo. Ou melhor, prefiro me ferrar bem para compreender de fato; o que e' certo. Conselhos x coração. Sou romântica, vou de coração. Daqui duas semanas eu chego ao estado cético e mando aquele infeliz a merda. Pelo menos se ele voltar com aquela vaca, fui eu quem decidi isso.

- rebeca stocatti

2 Dias

Olha, eu sempre começo assim. Vocês se lembram, não é? - Estou de volta. E agora durou um tempo razoável, eu posso afirmar. Não seja contrário a mim, certo? Apenas não goste de mim. Assim você já estará me fazendo feliz.

Entrei nessa paranóia de sofrer. É, então. Bacana, eu diria. Comecei a namorar (não fique com ciúmes), o tempo passou, aproveitamos bem, mas em determinado tempo ele percebeu que eu já não era mais a mulher da vida dele. Porque? Sei lá. Não faça essa cara, você sabe que eu te amo. Apenas aproveitei para ficar com ele, já que você estava comprometido. Sim, sim. Eu fiz isso. Agora você está feliz. Isso mesmo. Ria da desgraça alheia. Mas minha vingança me valeu de algumas coisas.

Voltando. Eu gostei desse tempo de sofrimento. Achava que ele era o homem da minha vida. Achava. Essa era a merda, eu nunca tive certeza. Precisava de alguma prova. E não veio. Alias, veio a contra-prova; ele me largou. Sim, pela segunda vez. A outra eu voltei atrás e o aceitei de volta. Mesmo ele tido me traído, aceitei. Primeiro porque entendo que foi apenas uma atração física, segundo porque nós não estávamos bem. Terminamos um dia, no outro ele já se arrumou. Porém superficialmente, pois correu atrás de mim tempos depois. Cedi. Voltei com ele.
Desta vez não, acho que me encontrei. E outra, tirei algumas conclusões antes dele. Eu é que não quero mais. Cansei. Principalmente porque agora sei que você está sozinho novamente. Apenas me convide para tomar um uísque, e eu te acompanho. Continue me odiando, mas depois disso meu amor; volte a me amar como antes. Ou mais.

E nunca se esqueçam, meu nome é Rebeca e vocês não precisam gostar de mim.

Plenitude em número 37 da Zoomp®

É... Depois de algum tempo, voltei. Isso mesmo, não goste de mim e nunca se esqueça; meu nome é Rebeca. Ah, eu quero que você se exploda! Você, seu namorado, ou namorada, e seu cachorro ou cadela... ou qualquer animal que habite a sua casa imunda.

Aquelas pessoas que me “amam” voltaram. Voltaram para me chamar de gorda e...? – E o quê viram foram Rebeca cinco quilos mais magra. Está aí, olha. Arrumei com um amigo meu. Anfetamina do mercado negro. A melhor que existe. Por quê? – Porque o custo é muito menor, oras. Não tente controlar o “incontrolável”. Ninguém é insubstituível e eu e você com certeza somos passageiros. Na frente ou atrás, não importa mais uma vez. Alguém consegue algumas caixas e agora estou me sentindo como gostaria. O espelho empoeirado e agora descoberto reflete a verdadeira boa forma sem dor na consciência. Aliás, realmente a consciência não dói, mas a cabeça sim. Algumas tonturas, falta de sono, hálito ruim... Quem se importa? – Estou magra, você me odeia, eu me amo e quem deveria gostar de mim está muito longe daqui. Esse sentimento de “plenitude em número 37 da Zoomp®” foi o que me motivou. O que acontece comigo durante a insônia ou mau humor rígido pós-almoço - não é da sua conta. Mostre-me algumas de minhas contas pagas e eu volto ao meu estado de espírito anterior, mas com muito menos dor de cabeça. Não pense isso, eu leio sua mente. Ou você se esqueceu? – Isso só demonstra o quanto me odeia. Apesar de eu justamente querer isso, não é bom para ambos. Pelos menos minta. Finja que gosta de mim. Eu brigo com você por isso e nós continuamos na mesma. Não me importa como me prefere, estou bem assim. Sinto-me melhor... Tudo bem, tudo bem... Já passou. Foi uma breve hipoglicemia facilmente resolvida. Tontura besta. Já estou bem. Bem, não - MAGRA!

Anti-herói

Não me pergunte como, mas hoje acordei inspirada. Você já sabe, meu nome é Rebeca. O que você tem a ver com isso? - Você também já sabe. Nada.
Ontem consegui sair de casa sem que as pessoas me chamassem de gorda. Eu não as ouvi. Fui a um lugar chamado "Bar Q? Bar" que fica próximo a uma loja de calcinhas masculinas. Você não conhece? - Eu também não conhecia. Mas use, é confortável. Lá encontrei o cara com quem marquei um encontro. Eu o conheci ontem na loja onde passei essa semana fazendo propaganda de sabonete íntimo feminino. Ah, esqueci de dizer. Eu trabalho com isso. O nome dele é Waldo, mas ele gosta que o chame de Ualdo. Diz que seu nome é inglês e não alemão. Bem como quis, o chamei de Uallll-do. Não repare, fazem noventa dias que não transo.
Waldo era baixo como eu, magro, usava óculos e era monocelha. Você sabe, aquela sobrancelha única de um lado a outro.
Logo que cheguei me apresentei. Ele ficou um tanto nervoso, eu percebi prontamente. Ele puxou uma das cadeiras para que eu me sentasse, e deu a volta até a outra. Chamou o garçon de "garçon", pediu um chopp e um suco de melão com hortelã. Você não bebe? - Não. Ok, ok há muito tempo não conhecia alguém que não bebesse. Esse cara não é para mim...
Falamos sobre sua vida, sobre a minha, sobre política e econômia. Mesmo sem que eu soubesse o que falei. Ele me pareceu convicto com suas idéias. Era contra a globalização e a certo ponto disse que lia quatro livros por mês. Se ele trabalhava? - Sim, trabalhava. Numa biblioteca pessoal. Onde alugava livros aos desprovidos de cultura governamental. O bairro era simples e não possuía nem encanamento. Ele era presente em sua relidade. Não gostava desse nosso mundo descartável.

Após muito tempo de papo furado, resolvemos nos despedir. Ele me oferceu uma carona e assim seguimos. As conversas agora eram sobre ambientalismo e do porque dele não comer carne vermelha. Eu adoro churrasco.
Próximo a minha casa reparei num casal aos amassos. Parecia bom e eu queria igual. Pouco depois que o carro parou, eles saíram. Eu mesmo bêbada percebi que algo caiu. Abri a porta do carro e corri até o local. Uma nota de cinquênta reais. Maravilha, vamos terminar a noite em grande estilo. Retornei ao carro e ao entrar tropecei na porta. Ele, com todo seu cavalherismo, me segurou e pediu para que mostrasse o que havia caído do amoroso casal. Mostrei a nota de cinquênta reais, pensei e disse: MOTEL de graça, meu amor. Waldo: nem pense nisso. Esse dinheiro não é seu. Devolva-o agora, vagabunda!

Meu nome e' Rebeca

Oi, meu nome é Rebeca.
Sou loira, baixinha e algumas pessoas me chamam de gorda. Isso não importa nesse momento. Na verdade nada importa. Por exemplo, poucas pessoas gostam de mim. Uma ou outra que você não vai conhecer. Não por não fazer parte de meu circulo de amizade, e não porque você não merece conhecê-los. É sério. Não adianta insistir, você não vai conhecê-los. Esses poucos colegas que frequentam minha casa são do tipo de gente que você não vai gostar. Meus vizinhos os chamam de drogados. Não são drogados, apenas não tomam banho todos os dias. O que você ou meus vizinhos tem a ver com isso? - Não precisa responder, eu leio sua mente. Você está achando que isso é mais uma de minhas invenções. Não, não. Isso não é fantasia ou coisa do tipo. Aliás, isso é mais real do que você imagina. Eu não imagino.
Ontem algumas pessoas, essas mesmos que insistem em me chamar de gorda, passaram pela porta de casa. Duas pessoas. Um garoto e uma garota. Não menos gorda do que eu. E veja só, não consegue correr nem dez minutos. Eu não sou gorda, você ou ela são.

(...)

Fui pegar um copo com dois dedos de vodka. Dois dedos e cinco pedras de gelo. É um gelo especial, fi-lo com suco de uva natural. Nunca tomou? - Experimente.
Nesse exato momento meu gato pulou da janela. Se não morreu, quebrou a pata. Não interessa. Agora só penso no que vou fazer para que você goste menos ainda de mim. Eu já disse, não me importo com você. Não insista. Não goste de mim e isso é tudo. Mais que tudo, nada. Todos representam nada. Para mim, nada.